6.12.05

Chatô: o rei do Brasil

MORAIS, Fernando. Chatô: o rei do Brasil. São Paulo: Companhia das letras, 1994.
ABREU, Alzira Alves de. A modernização da imprensa (1970-2000). In ___ A imprensa e o regime militar. Rio de Janeiro: Ed. Jorge Zahar, 2002.


Chatô: o rei do Brasil

Paloma Nogueira

O autor do livro: Chato, o rei do Brasil, Fernando Morais, é um consagrado escritor brasileiro, tendo publicado com sucesso, títulos como: Olga, A Ilha, Corações Sujos, Cem Quilos de Ouro e a biografia de Chatô. O jornalista nasceu em 1946 em Mariana, Minas Gerais, trabalhou em várias publicações da imprensa no país, inclusive no Jornal da Tarde e na Veja, além de ter sido Deputado e Secretário da Cultura e da Educação do Estado de São Paulo. Embora tendo vendido meio milhão de exemplares dos livros A Ilha e Olga em 20 países, Fernando Morais se firmou como escritor biográfico com a publicação de Chatô, o rei do Brasil, que será resenhada nas linhas seguintes.

Morais utiliza um vocabulário acessível, além de dividir o livro em capítulos, o que facilita uma leitura rápida e dinâmica. Para melhor entendimento, é necessário que o leitor possua um conhecimento prévio em relação a história do Brasil, pois o autor perpassa pelos principais acontecimentos políticos que vai do ano de 1892 a 1968. O livro é recomendado para profissionais da área de Comunicação Social, bem como para todas as pessoas que se interessem pela história desse homem que marcou uma era da comunicação.

Nesta resenha também foi utilizada, como texto de apoio, o livro A modernização da imprensa (1970-2000), escrito por Alzira Abreu que conta as dificuldades encontradas pela imprensa no período da ditadura militar e o momento histórico quando Chatô trouxe a primeira televisão para o Brasil.

Assis Chateaubriand foi dono de um império de quase cem jornais, estações de rádio, revistas e de televisão pertencentes à agencia Diários Associados , sendo o fundador do MASP (museu de Artes de São Paulo), além de ter atuado na política. Considerado por muitos como prepotente, arrogante, chantagista e ladrão, Chatô era mais temido do que amado. Parecia ser um cidadão além do bem e do mal.

O autor descreve a infância de um garoto gago, feio, raquítico e amarelo, filho de Francisco José e Maria Carmem, que nasceu em Umbuzeiro, no Estado da Paraíba, em 4 de outubro de 1892. Em homenagem ao santo Francisco de Assis, protetor dos animais, deram ao menino o nome de Assis Chateaubriand que tinha mais três irmãos: Oswaldo, Urbano Ganot e Judite. Por acreditar que os avós poderiam curar o garoto por ser gago, foi mandado para a fazenda onde os avós moravam onde morou e aprontou poucas e boas no período que lá residiu. Vendo o neto já grande e analfabeto, passam a ensinar as primeiras letras para o menino que tempo depois é aprovado no exame de admissão, apesar das notas baixas, em 22 de novembro de 1904.

Em Recife e bem instalado, Chatô não se interessa muito pelas disciplinas curriculares, preferindo ler jornais e freqüentar grupos de poetas e literários mais velhos do que ele. Mas, para freqüentar esse ambientes o jovem precisava de dinheiro e decidiu que iria trabalhar no turno oposto à escola. Ele tinha 12 anos quando começou a vender tecidos e com o primeiro salário da sua vida, comprou um bombardino e contratou um professor, além de continuar com as aulas de alemão e francês. Aos 14 anos, ele resolveu sair da loja de tecido e foi pedir emprego a Ana Loise, dona de jornais da cidade. Ela resolveu dar-lhe a ocupação de copeiro e uma semana depois a patroa percebeu que o garoto era muito bem preparado para ficar naquele ofício e deu-lhe a oportunidade de trabalhar como publicitário no Gazeta do Norte, mas só depois de algum tempo passou a escrever notas. A Gazeta fechou as portas em 27 de julho de 1907 e ele decide atender ao pedido do pai e mesmo contra a vontade, passa a freqüentar o curso de direito e paralelo à universidade, trabalha no Diário de Pernambuco.

No dia 31 de abril de 1911, depois de fechar o jornal, Chatô vai para casa e se depara com a notícia do falecimento do seu pai que tinha apenas 50 anos de idade. A partir desse momento, o jovem passa a ser o chefe da família. No mesmo ano, ocupou dois postos do Jornal do Estado: o de redator chefe e secretário de redação. Com talento e frieza, discutia diariamente com os patrões para convence-los a publicar ou cortar temas. Transformou o Estado em um instrumento de propaganda da luta armada que, no Ceará, o Pe. Cícero Romão Batista liderava contra o governo militarista local. A oposição intransigente que fazia nas páginas do jornal ao golpe da Dantas Barreto lhe custou um processo de responsabilidade por crime de imprensa, movido pelo general, do qual fora absolvido. Assis Chateaubriand saiu do Estado e passou a publicar artigos periodicamente no Jornal Pequeno e se dedicou à carreira de advogado.

Em agosto de 1915 conhece Maria da Penha Lins de Barros Guimarães (Poli), de 29 anos, com quem passar a namorar. Surgem boatos de que ele fazia corte a ela por interesses. Nesse mesmo período, Assis passa no concurso para professor na Faculdade de Direito. Ao voltar de uma viagem ao Rio de Janeiro, ele decide terminar com Poli, que por sua vez, ficou enclausurada por 10 anos.

Aos 25 anos, Assis decide morar no Rio, trabalhando como advogado com o interesse de juntar dinheiro suficiente para comprar o seu primeiro jornal, negando todas as propostas de sociedade. Ele decide, alguém tempo depois, aceitar ao convide de Pereira Carneiro de trabalhar no Jornal do Brasil. Em 10 de maio de 1919 ele conhece a mulher que também foi conhecida como seu grande amor, Iolanda Penteado, que jamais o deu esperanças de um dia ser sua esposa. Os dois mantiveram apenas uma forte amizade que durou até a sua morte.

Um ano depois, recebe um novo convite. Dessa vez era do dono do Jornal da Manhã, Edmundo Bittencourt, para morar na Alemanha no período de um ano com o objetivo de escrever artigos. Ele aceitou e lá chegou até a entrevistar Ludendorff. Em novembro de 1920 volta ao país de origem para trabalhar como redator chefe no Jornal do Brasil, mas logo no ano seguinte pede as contas sem declarar os motivos e volta a trabalhar no escritório de advocacia de Afrânio de Melo franco.

O homem mais rico do país naquele momento se chamava Francisco Matarazo que o convida para conhecer suas fábricas em agradecimento a uma nota de falecimento do seu filho, nascendo assim uma grande amizade entre os dois.

Em 1921 Chatô lança o livro: Alemanha, de quase 500 páginas. Foi sucesso de vendas que continha artigos e entrevistas. Um ano depois ele demonstra-se contra a Semana de Arte Moderna, chamando em seus artigos de “Semana de Secos e Molhados”. Nesse mesmo período, funcionários públicos, operários e outros trabalhadores são liderados pelo jornalista Astrojildo Pereira, fundando no Rio de Janeiro o Partido Comunista do Brasil.

No ano de 1924, apaixona-se pela francesa Jeanne Paulette Marguerite Allard, que tinha 20 anos e era funcionária da Casa de Câmbio e Exportação Daubonne e morava com os pais. No momento, ele utiliza o auxílio de amigos influentes e compra O Jornal, que pertencia a Renato Toledo Lopes. Dois anos depois o jornal já é um sucesso, recheado de anúncios e resolve lançar um vespertino nas tardes de segunda-feira que foi um fracasso. No jornal trabalhou personalidades importantes como Monteiro Lobato, Milton Campos, Carlos Drummond de Andrade e Oswald de Andrade. Depois de um ano compra o jornal Diário da Noite e de Monteiro Lobato, arremata também a Revista do Brasil, enquanto O Jornal continua tendo sucesso de venda.

Em 1924 termina o relacionamento com Jeanne Paulette às vésperas do casamento e em 2 de junho de 1926 anuncia o casamento com Maria Henriqueta Barrozo do Amaral, conhecida como Maria Branquinha de 21 Anos. Manoel Bandeira, redator do O Jornal desafia a fúria do patrão ao adotar-la como musa inspiradora para seus poemas.

Na viagem de núpcias, Assis escreve o livro: Terra desumana – a vocação revolucionária do presidente Artur Bernardes. A primeira crítica do livro foi publicada no O Jornal no domingo seguinte a publicação por Astraugésio de Athayde, dizendo que aquele documento era infiel à realidade.

O único, indisfarçável objetivo do autor é de apresentar o presidente Bernardes como um monstro, uma caricatura tarada, daquelas que ficam na história espantando as gerações - A fria encarnação do tirano com o sadismo do ódio e da vingança... o olhar agudo que Assis Chateaubriand lançou sobre a obra de Bernardes trai o impressionismo do jornalista, método que faz do homem de imprensa um eterno improvisador de idéias, arrastado a pronunciar-se em poucas horas sobre temas complexos que exigem a seriedade de longas meditações. Chateaubriand não pôde escapar a essa espécie de fatalidade de que todos somos vítimas mais ou menos acentuados.(MORAIS, 1994)

A Folha de São Paulo publica uma crítica por Plínio Barreto, elogiando Athayde, uma semana depois da publicação da crítica citada acima.
Em março de 1927 nasce o filho de Chatô, Fernando Antônio Chateaubriand Bandeira de Melo. Nessa época, comprou uma casa conhecida como Vila Normanda, adquiriu 55% do controle acionário do Banco do Comércio, do Rio de Janeiro, e arrependeu-se uma semana depois, passando a frente.

O Diário Nacional, órgão oficioso do Partido Democrático, organização de oposição criada de 1926 por um grupo de paulistas que um ano depois decidiram colocar nas ruas, tendo a frente o jornalista Paulo Duarte, os advogados Adriano Marrey Júnior e Vicente Rao e o historiador Paulo Nogueira Filho, entre outros. Nos primeiros meses de funcionamento de jornal chegou a compartilhar com os jornais de Chateaubriand a defesa de causas comuns, como a exaltação da Coluna Prestes e a exigência de anistia para os combatentes. O Diário da Noite era sucesso.

Nos tempos livres, o dono de O Jornal realizava passeios de barco com o filho Fernando e o afilhado Gigil, irmão mais novo de Jeanne, sua antiga namorada. No ano de 1928, mas precisamente a 10 de dezembro, sai nas bancas a revista O Cruzeiro com 50 mil leitores. Nessa mesma época, Antônio Carlos, Getúlio Vargas e Chatô formam uma Aliança Liberal. A imprensa nesse momento permanecia censurada até o triunfo final da revolução. Só o leitor muito arguto conseguia ver revolução nas entrelinhas das edições de O Jornal. Chatô então decide lutar ao lado dos revolucionários. Lê passou o ano afirmando que era necessário “desinfiltrar o governo e as forças armadas dos venenos da rebelião tenentista e enrija-los de disciplina, fortalecê-los de sentimento de ordem”. Prevendo que teria problemas com a censura, deu ordem para os jornais e a revista, mantivessem uma postura imparcial diante do governo, apenas noticiando fatos e quem tivesse opinião que comprasse um jornal, porque ali só quem emitia opinião era ele. O Cruzeiro, apesar do prestígio, permanecia sendo uma revista dedicada aos faits divers, sem preocupações políticas, que acabaria fazendo aprte da campanha pela redemocratização, a partir de uma reportagem de duas páginas cortadas pelo escandaloso título “Constituinte!”.

Em 1931 um velho sonho é realizado. A compra do Jornal de Pernambuco, onde se iniciou na carreira jornalística, mas veio a falir, e em seu lugar, na Treze de Março, do dia 14 de janeiro de 1933 as máquinas voltam a funcionar para colocar nas ruas não mais o provocativo O Jornal, mas A Nação, um diário sem-oficial a serviço de Getúlio. O Cruzeiro que, no ano anterior chegava perto dos 100 mil exemplares semanais, caiu agora para 20 mil. Para retomar o sucesso, Chatô convida o jornalista Accioly Neto e o advogado Martinho Luna.

Aos 41 anos, conhece a jovem atriz de 15 anos no Rio de Janeiro, Cora Acuña. Semanas depois do primeiro encontro, ele aluga um casarão de três andares na Avenida Brigadeiro Luís Antônio, no elegante Jardim Paulista, onde a amante passa a morar com a avó e a tia. Chatô passa a chamar a residência de “Consulado Espanhol”. Para os amigos dele, não se tratava apenas de uma paixão, mas de uma operação comercial, pela qual o jornalista tinha comprado a neta e a avó. A relação era mantida por meio de um ciúme patológico. No soube que Cora estava grávida, tomou de volta pelo governo O Jornal.

Em 11 de abril de 1934 nasce sua caçula Tereza Acunha (sobrenome aportuguesado). A Legislação não permitia o sobrenome do pai nas crianças tidas fora do casamento. A partir daí, se mudaram para uma casa na Urca e a situação das empresas começava a melhorar. Em novembro, O Jornal foi relançado com anúncios que ocupavam páginas inteiras, e no O Cruzeiro, cartas e telegramas de saudação pelo “fim do esbulho” a que tinham sido submetidos.

Apesar de tudo que fez conta os aliancistas, comunistas e seus seguidores, Assis lamentou ter tido “uma participação muito tímida na denuncia daqueles torturados”. A razão para agir assim foi em virtude do pensamento fixo no projeto que iniciara um ano e meio antes, durante uma conversa com um homem da GE, e que só concretizaria dois meses antes da revolta de novembro de 1935: a entrada dos Associados na era do rádio.

Em 1937 a rádio é implantada no Rio de Janeiro. A caótica administração dos Associados tinha drenado para a compra de equipamentos e pagamentos de dívidas dos jornais e revistas por parte dos recursos que Chatô arrancara de Imangreenwood, da General Eletric, para montar a primeira rádio do grupo. Graças a milionários como Penteado, Martinelli e outros, Guglielmo Marconi, que foi especialmente convidado por Assis, fez entrar no ar pela primeira vez a rádio “Tupi, o cacique do ar”. Era a segunda estação mais poderosa do continente, perdendo em potencia para a Rádio Farropilha em Porto Alegre, inaugurada semanas antes pelos filhos do General Flores da Cunha. Dois meses depois, lança a Rádio Tupi de são Paulo.

Com três estúdios e um grande auditório, a Tupi paulista era a mais potente da América Latina, com 26 quilowatts em seu transmissor, superior até a dos gaúchos. Ela podia ser ouvida em ondas curtas até fora do país. Como o rádio era uma atividade que ainda engatinhava no país, já que a primeira estação foi inaugurada no rio de Janeiro em 1923, era comum os anunciantes e patrocinadores também fossem reticentes em colocar seu dinheiro em algo incerto. Por conta disso, foi difícil levar Carmem Miranda para um show na rádio.

E Assis Chateaubriand Bandeira de Melo não se contentava com os jornais e rádios. Em 1937 comprou por 2200 contos o laboratório Licor de Cacau Xavier de São Paulo, o Guaraná Espumante e a industria de chocolates Lacta.

Antes do final dos anos 30, a Associados tinha incorporado o Correio do Ceará, de Fortaleza, O Jornal das Alagoas, em Maceió, O Estado da Bahia, de Salvador, começando a ampliar a rede para as grandes cidades do interior dos estados, montando ou comprando jornais em Juiz de Fora, Minas, Joinvile, Santa Catarina, além de criar o terceiro Diário Paulista em Santos.

Sua família continuava requisitando a presença do jornalista. Corita e Tereza sempre tomavam banho na praia de Copacabana, onde moravam e Gigil sempre as visitava. Aos 15 anos, Jeanne, que ele pensava ser sua irmã mais velha, lhe contou que era na verdade a sua mãe e o padrinho Chatô, seu pai. O jovem Gilbet François René Allard penou muito até conseguir que seu pai o registrasse como filho, passando a se chamar Gilberto Francisco Renato Allard Chateaubriand Bandeira de Melo.

Corita decide fugir com o amante e empregado Bockel e a filha para um sitio até que Chatô, com a ajuda de conhecidos da policia começa a dar tiros exigindo a filha. Nesse momento ele pede auxilio do amigo e presidente, Getúlio Vargas, para registrar a menina como sua filha e também para ficar com a guarda de Tereza. A Lei é mudada duas vezes para satisfazer as vontades do arrogante empresário.

Em 1944, viajou para os Estados Unidos e foi recebido pelo governador. Lá, realizou uma turnê por conta própria passando por quatro cidades da Costa Oeste. Embarcou em destino a Nova York, onde foi recebido pelo prefeito Fiorello La Guardiã. Segundo nota publicada no New York Times, a saída do encontro, o brasileiro declarou que havia convidado La Guardiã para presidir um simpósio sobre jornalismo no Brasil, mas que o prefeito havia recusado o convite alegando que “seu tempo era curto de mais para manter limpas as ruas de Nova York”. Nessa viagem Assim Chateaubriand conheceu a televisão.

Um ano depois, a Tupi do Rio comprou um transmissor de 50 quilowatts de potencia e contratou quase todo o cast da rádio nacional, a começar pelo diretor Gilberto de Andrade, que consigo trouxe Paulo Gracino, Almirante, Aroldo Barbosa e Paulo Tapajós.

Chatô entrou na década de 50 dividido entre a campanha presidencial, a consolidação do Museu de Arte de São Paulo e a de implantar no Brasil a quarta estação de Tv do mundo e a primeira da América Latina. Quando circulou a notícia de que o país ia entrar na era da tv, o projeto já estava muito adiantado. A inauguração da Tv Tupi foi no dia 18 de setembro de 1950. Antes da inauguração eram realizados ensaios sem equipamentos para complicar ainda mais, Assis exigiu que fossem transmitidas para um circuito fechado de Tv as cerimônias de inauguração formal do Museu de Arte de são Paulo e do Edifício Guilherme Guinle, o nome da sede dos Associados na rua Sete de Abril, do dia 7 de julho. Nesse dia, um monitor foi instalado no amplo saguão do edifício e outro ao ar livre, na esquina das ruas 7 de Abril e Bráulio Gomes. Ao fim dos discursos de praxe, aconteceu uma apresentação do mais festejado artista latino de Hollywood da época, o frade-cantor mexicano José de Guadalupe Mojica de 54 anos, que cantou o rit do momento, o bolero Besame. O sucesso da pré-estreia não diminuiu a tensão no prédio do Alto do Sumaré.
No dia 18 de setembro, às 17h começaria a ser transmitida a cerimônia de benção e batismo das câmeras e dos estúdios e prosseguiria com esquetes intermitentes até o encerramento, às 21h, com um grande show. Para a festa de inauguração oficial, Chateaubriand reservou um salão no Jockey Club para seus 200 convidados assistirem a transmissão durante um jantar elegante. A estação era sintonizada como PRF – 3 – Tv Tupi, depois passou a ser canal 3. a Tv Tupi só foi inaugurada no Rio de Janeiro no ano seguinte.

Em 1951 Chatô decidiu ser Senador, mas as eleições já haviam chegado ao fim. Então ele convenceu a um Senador nordestino renunciar seu cargo para que ele se lançasse na campanha. Logicamente ele venceu utilizando suas empresas de imprensa.

Em 1959, Assis Chateaubriand Bandeira de Melo, conseguiu a proeza de estar com relações rompidas com todos os três filhos. O mais velho, Gilberto, ele já não falava há anos. Já Fernando havia brigado quando mandou João Calmon demiti-lo da direção do Diário de Pernambuco, enquanto Teresa ainda havia magoas a respeito de uma viagem que ela havia feito às escondidas com Corita e Bockel aos Estados Unidos. A mágoa veio crescer no momento que a garota completou a maior idade e foi morar com a mãe.

Na manhã do dia 21 de setembro de 1959, ele convocou a imprensa para uma entrevista coletiva no 20º Cartório de São Paulo, do qual o tabelião veio a anunciar que por meio de uma estrutura pública que lavraria naquele momento, Chatô decidiu doar a 22 de seus empregados, 49% da propriedade de seu império de comunicações: 40 jornais e revistas, mais de 20 estações de rádio, 10- estações de Tv, uma empresa de propaganda e uma agencia de notícias. O restante foi dividido entre amigos, parente e filhos.

Em 1960 começa um período de declínio para Chatô: o rei do Brasil. Ele contrai tuberculose e é internado diversas vezes. Nesse momento ele recebe cuidados da enfermeira Emília com quem divide uma amizade que perdura até sua morte. Embora debilitado, continua participando de reuniões dos Associados. Assis faz da Casa Amarela, um hospital, contendo cama ortopédica, grua na piscina para fazer fisioterapia, além de equipamentos para se locomover como a cadeira de rodas, por exemplo. Nesse período, a obsessão pelo sexo foi algo que chamou a atenção dos amigos, como o caso da “noivinha” Maria Helena que ele conheceu na temporada em Araxá. Ele dizia que ia casar com ela e essa, por sua vez, alimentava o fetiche do senhor na cadeira de rodas, até que ele descobriu que ela o enganava com um antigo namorado.

No dia 31 de março de 1964 acontece no país o golpe militar que, segundo Alzira Abreu, instalou-se com forte consentimento civil como explica a autora no trecho seguinte:

Entre outros setores, principalmente empresariais, a imprensa de maior prestígio e circulação foi um dos suportes estratégicos do movimento que derrubou o regime constitucional. A maioria dos proprietários de jornais encampava as idéias do liberalismo econômico e se identificava como o ideário da UND, o partido que, junto com os militares, conspirou para a deposição do Presidente João Goulart. (ABREU, 2002)

Nesse período a imprensa sofreu censura, tendo nas redações inspetores do governo que avaliava o que poderia ou não ser publicado. Muitos jornais nessa época fecharam e jornalistas foram presos, torturados e assassinados pelos militares por representarem algum período para eles.

No começo de 1967, baixou o Decreto – Lei Nº236, que contava no artigo 12 do direito, Castelo Branco limitou a cinco o número de estações de Tv que poderiam permanecer a um mesmo grupo privado, sendo três regionais e duas nacionais. Nessa hora começava a cair a rede Associada de Tv, cujo prestigio passaria a ser ocupada posteriormente à Rede Globo de Tv.

Como não entrava mais dinheiro público nos Diários Associados, o jeito foi começar a vender bens para pagar as dívidas. Muito doente, Chatô começa a recorrer curandeiros. Em 4 de outubro de 1967, permite a comemoração dos seus 75 anos de vida. Dias depois da festa seu quadro de saúde se agravou. Com dificuldade respiratória e hipertensão, no dia 23 de janeiro de 1968 é internado no Hospital Santa Catarina no quarto 212. Pessoas ficavam no jardim do hospital para obter notícias sobre o estado de saúde de Chatô.

No dia 4 de abril daquele ano, de ataque cardíaco o rei da imprensa no Brasil morre, mais precisamente às 21h30. Com a notícia do falecimento de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo, o governador de São Paulo, Abreu Sodré, decreta luto oficial de três dias em todo o Estado e determina que no dia seguinte não haveria aulas nas escolas e as repartições públicas não funcionariam. O corpo embalsamado foi velado até o dia 6 de outubro no saguão do prédio dos Diários Associados na rua Sete de Abril. A roupa de Imortal da Academia de Letras não cabia no corpo, pois havia engordado desde a ultima vez que usara. Dessa forma, rasgaram o fundo o terno para caber em Chatô.

Atualmente, o Condomínio Acionário das Emissoras e Diários Associados é o 6º maior grupo de comunicação do Brasil, formado por 15 jornais, 15 emissoras de rádio e 5 de Tv (SBT), distribuídas em 14 cidades de 11 estados. Os seus 5 diários (O Estado de Minas, O Diário de Natal e o Poti de Natal, o Diário da Borborema e o Correio Brasiliense) são lideres dos locais onde são publicados. O Condomínio também é proprietário, além de jornais, Tvs e rádios, de uma empresa de informática e uma fazendo no interior do estado de Minas Gerais, tendo uma folha de 6 mil empregados. Hoje já não é mais um império, como almejava o fundador, mas o Condomínio continua como uma “Federação Empresarial” descentralizada.