CRÔNICA: O PALÁCIO DE CRISTAL
Paloma Nogueira
A capital baiana recebeu um novo espaço de entretenimento. O Shopping Salvador, que promete ser o maior da cidade até 2010, abriu suas portas no dia 22 de maio com parte das lojas e lanchonetes funcionando. A construção moderna, clean e sofisticada, atraiu um grande número de pessoas no dia da inauguração. Não havia fila na entrada do estacionamento, entretanto na passarela da Av. Tancredo Neves, pessoas circulavam o tempo inteiro. Vendedores ambulantes e artistas plásticos tentavam também ganhar o deles. Logo na entrada do suntuoso shopping, os clientes que desciam da passarela, passam por uma pontezinha sob o riacho podre da Avenida. A primeira vista do ambiente interno era uma fanfarra tentava se fazer ouvida na multidão que se empurrava para poder caminhar no chão de vidro do novo paraíso de consumo.
Grandes lojas de grifes internacionais e nacionais permaneciam totalmente vazias, pois aquele não era o público alvo que, certamente virá depois do enxame previsto para os primeiros dias de funcionamento. Enquanto isso, duas lojas de eletrodoméstico voltadas para o povão que estava ali marcando presença, oferecia tentadoras promoções para dar fim aos produtos que não tinha mais saída nas outras lojas e essa parecia ser a grande oportunidade delas esvaziarem o estoque. Centenas de pessoas superlotaram ambas as lojas a ponto de não caber nem mais um ser humano dentro daquele ambiente que se assemelhava mais a uma guerra. Pessoas se cotovelavam e empurravam umas as outras enquanto as crianças, já cansadas, seguravam bexigas coloridas.
Apesar dos primeiros visitantes serem, na sua maioria, da classe econômica mais baixa, não serão eles os consumidores do palácio de cristal capitalista. O apartheid econômico em centros de compras fica assim, cada dia mais taxativo. No Shopping Iguatemi, as classes são divididas por andar ao passo que o seu vizinho, o Shopping Salvador, é todo um 3º piso ainda mais moderno e mais elitizado.