17.5.07

Resenha do filme: Príncipes e princesas

PRINCIPES & PRINCESAS
Paloma Nogueira


O comovente filme de Michel Ocelot, Príncipes e Princesas, nos faz reavaliar valores construídos ao longo da nossa história, partindo do princípio de padrões pré estabelecidos desde a nossa infância, permeando o campo simbólico da nossa estrutura social. O diretor francês, já renomeado e respeitado em todo o mundo, também produziu sucessos como os longas: Kiriku e a Feiticeira, trouxe no ano de 2000, com o título original de Princês & Princesses, surpreende o público com um filme dividido em várias fábulas infantis. O filme produzido na França em 1999, tem 70 minutos de duração. Os atores Giuliam Gam, Oton Bastos e Ernesto Piccolo emprestam as vozes para a dublagem dos fascinantes personagens.
A base central do desenho é uma sala de montagem de teatro de sombras, onde um menino, uma garotinha e um velho se divertem recriando e recontando historinhas de contos de fadas, fazendo uma viagem no tempo. A princípio, o público pode sentir um certo desconforto por conta da estrutura de animação criada pelo diretor, pois, durante todo o filme, é impossível enxergar os detalhes das imagens, pois, é apresentada apenas a silhueta das imagens. Mas, pouco tempo depois, o espectador se permite a viajar na imaginação, dando ele mesmo, cores e formas as imagens perceptíveis.
A narrativa escolhida por Michel Ocelot começa com uma simples brincadeira, onde os personagens vão recontando historias conhecidas e depois eles mesmo vão criando, ou melhor, recriando historinhas, passando de forma subliminar, novos valores até então não encontradas nas histórias infantis.
Em nenhum dos contos encenados pelos personagens é possível perceber a divisão caracteristicamente abordados como o bem e o mal, o belo e o feio, o certo e o errado, etc. o que há é uma inversão dos valores morais presentes nas fabulas tradicionais de contos de fadas originariamente européias.
Em uma das histórias, uma linda princesa é oferecida em troca a quem tiver coragem e conseguir invadir o castelo de uma bruxa. Um jovem observador, apresenta características pessoais como calma, prudência e paciência. Enquanto todos tentavam invadir o castelo por meio da força, ele, simplesmente bate na porta e entra para conversar com a bruxa. Ao contrário do que se imaginava, a feiticeira é uma moça também calma e de voz meiga. Quando a comunidade chama o jovem para entregar-lhe a mão da princesa em casamento, ele prefere ficar com a bruxa. Outra história bem elaborada é a última, quando um casal Cortez troca promessas de amor com palavras que ressaltam apenas as qualidades, eles se beijam e de repente eles passam por diversas mutações animais e as brigas começam. Por fim eles se vêem trocados na aparência humana. A moça fica no corpo do rapaz e vice-versa. Nesse momento, diversas questões são mobilizadas como a velha história de se pôr no lugar do outro, questões ligadas a gêneros sexuais, o idealismo do amor platônico e a desconstrução da imagem do casal perfeito.
Príncipes e Princesas é um filme que atrai pessoas de todas as idades e mobiliza diversos conhecimentos e ideologias do que julgamos como morais e éticos. O longo permite a público imaginar e dar formas aos personagens que são apenas sombras e por conta disso, não é perceptível a etnia das três pessoas.