6.12.05

CRÔNICA BASEADA NO FILME: O HOMEM DO ANO

CRÔNICA BASEADA NO FILME: O HOMEM DO ANO

MEU NOME É MICHAEL

O que é mesmo a vida, não é mesmo?
Um dia agente acorda e se da conta que é vitima do sistema social e não consegue ver uma saída, embora todos digam que ela exista.
Foi assim comigo. Um dia acordei decidido a mudar. Na verdade sempre quis ser alguém que eu não era. Muitas vezes me imaginei no lugar do outro. Um bacana que dirige um Audi e pega as gatas para passear em um iate, bebendo champanhe importado enquanto o sol brilha escaldante no céu azul, azul. Em vez disso, minha diversão é churrasco de gato na casa de algum amigo desempregado, bebendo cerveja barata e economizando até no cigarro. Estar no lugar do outro...fantástico!
Foi assim na manhã daquele sábado de verão. O despertador tocou logo cedo. Tomei um breve banho frio e coloquei a melhor roupa que tinha no armário. Uma calça da Collci e um Nike. Não tinha um possante, então paguei o buzu e não sentei. Estava lotado de tal maneira quem nem cheguei a passar pela borboleta nos primeiros 40 minutos. Finalmente cheguei na Lapa. Havia um salão de beleza e eu lembrei daqueles atores que mudam o cabelo de uma novela para outra e ficam irreconhecíveis. Foi o que fiz.
- Bom dia! (disse sorrindo a atendente de longos cabelos loiros).
- É... Bom dia! (respondi indeciso enquanto o corte e tenso diante tanta beleza da atendente).
Um breve silencio ecoou no ambiente de paredes laranja.
- O que posso fazer pelo senhor?
O que ela pode fazer por mim? Ah, que tal mudar minha identidade?
- Gostaria de mudar um pouco o visual... Não sei. Talvez um corte – respondi.
- Quem sabe um corte e uma tintura? (sugeriu toda empolgada).
- Tintura? Não, não. Acho que não fico bem com o cabelo pintado não.
- Pode confiar em mim. Vou te deixar irreconhecível.
Ela disse tudo. Irreconhecível. Era exatamente isso que eu quero. Ser outra pessoa.
- Tudo bem então. Mas, qual seria a cor?
- Loiro Platinado. A sensação do momento.
No primeiro momento, confesso que fiquei assustado.
Passamos uma hora conversando. Mal conseguia prestar a atenção no que ela falava. Só conseguia contemplar a sua beleza. Estaria eu me apaixonando? Logo eu? Uma pessoa sem nenhuma perspectiva de vida? Não, não...
- Então, vamos ver como ficou? (perguntou sorrido).
Quando vi o resultado, confesso que me senti estranho, porém, um outro cara.
- Você ficou lindo! Parece até um gringo.
Saí de lá com ela para um barzinho na minha rua. Queria que todos vissem meu novo eu e também a gata que eu tava pegando.
Quando entrei no estabelecimento do meu velho amigo Aristides, todos começaram a caçoar de mim. Até que o pau quebrou com um vagabundo de lá da rua que gritava o tempo todo que eu tava toda uma bicha. Não pensei duas vezes e meti a desgraça nele. Quebramos o bar todo e chegamos até a rua. Não pude controlar. Puxei o gatinho de uma pistola que Aristides guardava atrás do balcão para defender sua propriedade.
Apaguei o cara.
No outro dia, não quis nem sair de casa. Fiquei esperando os homens me pegarem pra levar pra cadeia que é o destino de gente pobre, analfabeto e burro como eu. Mas nada aconteceu.
Resolvi da uma volta e de repente o povo começou a me abordar na rua para me dar presentes ou me parabenizar por eu ter limpado a rua. Até um policial me agradeceu por eu ter feito o serviço por ele.
Voltei para casa todo cheio de mim. Havia conseguido. Agora sou outro cara. O cara do ano.
Desse dia em diante meu circulo de amizades cresceu. Ando com bacanas para quem presto serviços e recebo bem pelo meu trabalho.
Hoje, meu nome é Michael!