9.5.06

REPORTAGEM: Morando sò

MORANDO SÓ

Adolescentes saem da casa dos pais no interior para estudarem na capital baiana.

Paloma Nogueira

Em fevereiro desse ano, a vida do adolescente Luan Del Rey Crusoé, 17 anos, mudou totalmente. “Deixei a minha vida pacata que estava acostumado. Aqui em Salvador é muito diferente”, conta o jovem que, saiu do interior do Estado para estudar na capital, buscando uma melhor preparação educacional para ingressar em uma universidade. “Moro na casa de parentes, por isso não me sinto tão só. Mas, ainda assim, tenho aprendido a me virar sozinho, por isso digo que hoje, sou mais independente”, diz Luan e acrescenta com um breve sorriso: “minha independência será completa quando for financeira também”, já que ele gosta de ir aos shoppings e shows. Para o pai dele, Robson Del Rey Crusoé, investir na educação dos filhos é prioridade e qualquer sacrifício compensa. “Sinto muito a falta dele e fico preocupado, mas confio no meu filho”, desabafa.

As histórias de adolescentes que saem da casa dos pais, no interior, e se mudam para Salvador em busca de qualidade de ensino, é cada vez mais freqüente. Manoel Vitor de Jesus, 16 anos, mora na casa de parentes. “Vim para cá com o objetivo de estudar. Logo quando cheguei foi difícil me adaptar e também sentia muita saudade de casa, dos meus amigos e da antiga escola”, conta ele emocionado e acrescenta: “meu relacionamento com minha família mudou um pouco. Com a distância ficou melhor, pois quando nos reencontramos é uma grande felicidade”. O pai, Agnaldo de Jesus, fala que: “se fosse por mim ele não iria, mas sei também que essa é a melhor opção e vai ser para o bem dele”. A família se encontra um final de semana por mês.

Paula Barreto, 16 anos, também teve que deixar a casa da família e enfrentar um cotidiano de gente grande. “Não tenho empregada e divido a casa com meu irmão de 20 anos que não tem jeito nem para trabalhos domésticos. Cuido dele e de mim”, conta a garota com toda alegria e energia proveniente da idade. Nesse momento, Ramon Barreto se manifesta e acrescenta: “temos que cuidar um do outro. Cada um faz sua parte no serviço de casa”. Há cerca de um ano e meio os irmãos moram sozinhos com o objetivo de estudar. Mas no início não foi fácil para Paula “Comecei a sentir muita falta de casa. Cheguei a emagrecer três quilos na primeira semana. Eu chorava noite e dia querendo voltar”, desabafa a menina que muda totalmente sua expressão de alegria para uma breve angustia.

Trabalhando e estudando

A busca por emprego paralelo aos estudos também caracteriza esse perfil de jovens ‘quase independentes’. Isleide Silva Santos, 21 anos, desde quando veio morar em Salvador, trabalha e estuda para pagar suas despesas de moradia, alimentação, transporte e outras despesas. “Meus pais complementam alguma coisa nas minhas despesas com a faculdade. Temos um ótimo relacionamento”, conta a jovem que também sentiu muita saudade quando teve que deixar a casa dos pais “Eu tinha tudo que queria e não tinha preocupações. Agora as coisas são mais difíceis”. Isleide conta que sua saída de casa foi muito difícil para sua mãe que, até hoje chora de saudade da única filha e se preocupa. A jovem acredita que “A independência não depende de morar com os pais, isso vem com cada um. Sinto-me mais livre, agora não preciso ficar dando satisfação a ninguém”, conclui.

Segundo o economista e gerente de uma das agências do Banco do Brasil, Adalberto Oliveira, a manutenção de um estudante em uma cidade grande pode ter níveis variados de despesas. “Devido ao inadequado nível de incentivo do poder público ao setor educacional do país, têm sido constantes as queixas dos pais, moradores em cidades do interior, quando se deparam com os custos exigidos para manter um filho em uma cidade grande, com o objetivo de complementar sua educação formal”, afirma ele que há cerca de dez anos também passou pela mesma situação quando teve que mandar os dois filhos para a capital, pois na época fazia serviço para uma agencia no interior do Estado.

Já Leonam Torres, 21 anos, está procurando estágio no turno oposto a faculdade. “Divido a casa com outros jovens que, como eu, se mudaram para cá em busca de uma oportunidade de crescer na vida”, conta o rapaz que ainda tem seu custo sustentado pelos pais, com quem tem um bom relacionamento. Leo, como é chamado pelos amigos, acrescenta: “sair de casa é muito bom. Agente amadurece mais rápido, mas por outro lado você sente falta de ter uma comidinha pronta, roupinha lavada, essas coisas”. A irmã dele também mora aqui em Salvador e eles se vêem com freqüência: “ela me apóia muito. Nos damos muito bem”, conclui.

Quanto custa?

Para uma melhor visualização das despesas exigidas, o economista, Adalberto Oliveira, dividiu as escalas de custo, de acordo com a disponibilidade de renda alocada pelos pais para esse fim. “De acordo com a tabela abaixo, situa-se na faixa 1, famílias com nível de renda superior a R$6.000,00 e que podem despender mais de R$3.000,00/mês, incluindo o aluguel de um apartamento, disponibilização de um automóvel (despesas de R$300,00 com combustível, manutenção etc.), empregada doméstica, compra de alimentos, mesada etc”, informa o gerente do Banco do Brasil.

Na 2ª faixa, estão as famílias com renda acima de R$4.000,00 e dispostas a gastar em torno de R$1.500,00. “Neste caso o aluguel do imóvel deverá ser dividido com outros três estudantes de outras famílias, será utilizado transporte coletivo e a mesada menos generosa” supõe o economista e acrescenta: “a faixa seguinte comportará as famílias que ganham em torno de R$2.500,00 e as com renda superior a este valor, mas com outros encargos que impeçam uma despesa maior com a educação dos filhos. A residência deverá ser uma pensão e a escola escolhida deverá ter uma mensalidade mais em conta”.

Segundo os cálculos de Adalberto Oliveira, para uma família com renda menor, a realidade é outra: “a escola deverá ser pública, a residência será uma ‘casa do estudante’ mantida pela prefeitura de origem do estudante e a mesada bem menor”, informa.

ITENS FAIXA 1 FAIXA 2 FAIXA 3 FAIXA 4

Aluguel de apartamento

600,00

República

150,00

Pensão

450,00

Casa do estudante

0,00

Transporte

300,00

85,00

85,00

85,00

Mercado

600,00

150,00

Despesas residenciais

400,00

100,00

Empregada doméstica

400,00

100,00

Mensalidade Escolar

600,00

600,00

400,00

Mesada

300,00

200,00

100,00

60,00

TOTAL

3.200,00

1.485,00

1.035,00

145,00