6.6.06

REPORTAGEM: A maturidade da indepêndencia

A MATURIDADE DA INDEPENDÊNCIA

Mulheres que moram só, por opção, falam da sensação de liberdade e independência que sentem .

Paloma Nogueira

Em meio à sala branca, bem arrumada, Dona Hulda, 75 anos, não para de pintar suas telas. Dentro do pequeno apartamento, ela divide a atenção entre suas tintas e traçados precisos com a tão adorada companheira. A seqüência de novelas noturnas. Viúva há 20 anos, aprendeu a dar um novo sentido a sua vida. “Já fiz faculdade da terceira idade, dança, musculação, hidroginástica, alongamento, aulas de artesanato e interpretação, mas agora me dedico a pintura em telas”, conta.

Independente financeiramente, a professora aposentada gosta mesmo é de passear. “Nas últimas férias fui visitar minhas primas nos Estados Unidos e quando voltei fui para Minas Gerais. Gosto de conhecer lugares diferentes”, fala com muita disposição. Nos finais de semana, ela visita os 2 filhos que também moram na mesma cidade, mas não gosta de passar temporadas com eles e não pensa mais em dividir a casa com ninguém: “esse é meu companheiro (aponta para as chaves sobre a mesa). Já estou acostumada a ser independente. Não gosto de ninguém me dizendo o que fazer. Quando canso de ficar trancada em casa, pego meu ônibus e saio”, diz .

Há 5 anos ela vendeu o carro porque não podia mais dirigir por motivo de saúde. Para ir à igreja nos finais de semana, ela pega carona com amigas: “depois do culto, vamos tomar sorvete ou comer uma pizza. Jogar conversa fora”, conta entusiasmada e completa: “todo final de ano, a turma que se formou comigo se reúne. É muito bom rever os amigos da juventude”, conclui.

Outra história de mulheres independentes na melhor idade é a de Dona Florizete Freitas, 77 anos, que ficou viúva há seis anos. “De lá pra cá moro sozinha. À noite é quando mais sinto falta de uma companhia”, diz ela, que já se adaptou a situação. Cada final de semana é com um filho. Dona Zete, como é chamada, teve sete e todos moram na mesma cidade. “Gosto muito dos meus filhos, mas não pretendo morar com nenhum. Não troco minha liberdade por nada”, afirma.

A costureira também é apaixonada por animais e futebol: “Vitória é o time do meu coração. É uma pena que não posso ir a estádios assistir as partidas”, lamenta. Em homenagem à seleção brasileira, ela tem dois gatos: Romário e Bebeto. Eles são sua paixão. “Deixo muitas vezes de sair por causa deles. Não gosto de deixa-los sozinhos”, brinca.

Assim como muitas das suas amigas, ela também pratica esportes. “Faço hidroginástica e caminhadas diariamente”, conta, e também faz planos de entrar em uma academia de dança ainda esse ano. “Tenho muito orgulho de dizer que tenho 77 anos. É muito bom chegar até aqui sem nenhum problema de saúde e independente financeiramente”.

Segundo dados extraídos do Censo Demográfico 2000, a coordenadora de Equipe de Pesquisa do SDDI-IBGE/BA, Michelle Sande, informa que os bairros mais habitados por idosos são: a Barra, Graça, Canela, Vitória, Campo Grande, Nazaré, Cabula e Brotas. O Setor Censitário é, segundo a coordenadora “a unidade territorial de coleta formada por área contínua, situada em um único quadro urbano ou rural, com dimensão e número de domicílios que permitam o levantamento das informações por um único recenseador, segundo cronograma estabelecido”. Essa pesquisa respeita os limites territoriais que são legalmente estabelecidos por pontos de referência de fácil identificação, de modo a evitar que um recenseador invada a unidade territorial de coleta de responsabilidade de um outro recenseador ou omita coleta na área sob sua responsabilidade.

Irmãs que moram só preferem ser vizinhas

Hilda e Núbia são irmãs e vizinhas. Cada uma seguiu sua vida desde quando saíram da cidade de Cruz das Almas, interior da Bahia, ainda na adolescência. Ambas, chegaram a Salvador com a perspectiva de melhorar a situação econômica da família e casar.

Hilda Souza, 69 anos, resolveu dar um novo rumo na vida quando seu ex marido resolveu se separar. “No começo sofri e senti muito falta de uma companhia, mas já acostumei”, fala. A aposentada teve 4 filhos, mas não gostaria de um dia ir morar com eles: “gosto de morar sozinha e também ronco muito alto e isso acaba incomodando”, brinca. Com a saúde em dias, ela faz caminhadas e alongamento com freqüência e prefere não ter ninguém para ajuda-la no serviço doméstico: “prefiro fazer as coisas da minha maneira e isso me ajuda a passar o tempo”, conta.

Dona Hilda está sempre de bem com a vida e prefere nunca mais ter que dividir a casa com outras pessoas e diz: “para ir a casa da minha irmã nem preciso atravessar a rua. Qualquer coisa sei que posso contar com ela, além do mais, meus filhos e meus netos sempre que podem vêm me visitar. Não tenho do que reclamar”.

Já sua irmã mais nova, Núbia Machado, 66 anos, sempre morou sozinha, pois preferiu não casar. “Eu ajudava minha irmã a criar os filhos dela. De certa forma, também fui mãe. Sempre que podem eles vêm me visitar”, conta ela em meio a sala de visitas repleta de porta retratos dos sobrinhos, amigos e parentes.

Assim como a irmã, a também aposentada pratica não tem vontade de dividir a casa com outra pessoa e sozinha, faz todo serviço da casa. Quando o assunto é atividade física, Dona Núbia brinca: “de vez em quando eu faço uma caminhada no passeio. Não gosto de fazer ginástica não”, brinca.

No momento da entrevista, a sobrinha Célia Batista chega para visitar a tia e conta: “venho visitá-la duas vezes ao dia: pela manhã, antes do trabalho e a noite, quando chego em casa, e nos finais de semana venho sempre pra cá. Não gosto de deixa-la sozinha”. Célia tem um quarto só para ela na casa da tia e divide a tenção entre Hilda e Núbia. “divido a atenção para elas não ficarem com ciúme uma da outra, conta em meio ao jardim que separa as duas casas.