15.10.06

ENTREVISTA

Especialização em Educação Ambiental em Salvador
Doutor em Meio Ambiente, Nilson Fraga, fala a Ewé sobre importância da formação de professores em Educação Ambiental.

Por Paloma Nogueira

Salvador conta agora com especialistas em Educação Ambiental. O IBPEX (Instituto Brasileiro de Pesquisa e Extensão) forma a primeira turma no Estado da Bahia e abre novas vagas para o próximo semestre. O objetivo do curso, com carga horária de 360h, é instrumentalizar profissionais para educar visando a sustentabilidade de forma multidisciplinar.
Em entrevista exclusiva para a Agência Ewé de Notícias Ambientais, o professor Nilson César Fraga, Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento, fala sobre a importância de formar especialistas em Educação Ambiental. Fraga é professor da UFPR (Universidade Federal do Paraná), da Faculdade Bagozzi, Faculdades Integradas Curitiba e do IBPEX. Ele tem oito livros publicados sobre sociedade e meio ambiente e é autor de mais de 30 artigos em revistas científicas no Brasil e no exterior.


Ewé - Qual a principal preocupação na formação desses profissionais em Educação Ambiental?

Nilson Fraga – Promover a Educação Ambiental num sentido teórico-prático, buscando a sensibilização inicial da comunidade escolar promovendo ações positivas e de responsabilidade socioambiental; promover mudanças de valores e comportamentos que estimulem uma melhor qualidade de vida; contribuir com a reflexão sobre o meio ambiente.

Ewé - Em quais áreas o especialista em Educação Ambiental está habilitado a trabalhar?

Fraga – A área de atuação é enorme, pois tal capacitação atinge vários ramos de atuação, passando pela escola, por empresas, órgãos estatais e Organizações Não-Governamentais que trabalhem com a relação sociedade e natureza, com política internas e externas de responsabilidade socioambiental.

Ewé - Qual a importância da formação em Educação Ambiental para os professores?

Fraga – No mundo globalizado assistimos a uma “guerra” de integração e desintegração na educação e no exercício da cidadania. Por isso, há a necessidade de compreendermos os problemas ambientais numa visão transdisciplinar que demanda a prática e a teoria de projetos ambientais com dimensões individuais e coletivas, priorizando o afetivo, o lúdico e o estético na ação de grupos, afim de torná-los co-participantes e conscientes desse processo.
A busca de novas soluções na educação deve estar presente na potencialidade do ser humano e na sua vida cotidiana. E quando há uma proposta na área complexa, como é a de educação ambiental temos sempre que avaliar as dificuldades e benefícios que permearam as propostas, fazendo reflexão sobre os valores éticos necessário ao contexto da comunidade escolar. Diante do exposto, uma questão se impõe: viabilizar um ensino que venha possibilitar ao aluno um maior comprometimento com o meio ambiente.

Ewé - Como o professor pode trabalhar a Educação Ambiental na perspectiva sistêmica?

Fraga – A Educação Ambiental é um processo permanente de formação, informação e orientação voltada à sensibilização e o desenvolvimento do senso de responsabilidade pelos recursos naturais. Ela possibilita uma mudança no modo que os indivíduos vêem o meio ambiente, buscando assim, mudanças de atitudes que gerem soluções para a questão da sustentabilidade ambiental, onde as unidades de conservação podem e devem ser utilizadas como instrumentos neste processo de formação, além daquelas de cotidiano, que envolvem a qualidade do ar na cidade, as erosões no campo, o esgotamento dos recursos hídricos urbanos e rurais, a saúde de forma geral, assim, a perspectiva sistêmica aparece e é trabalhada na coletada de tais dados, sua análise e planejamento, mas de forma geral, os pressupostos da Educação Ambiental visam forma um cidadão mais completo e neste sentido a subjetividade contida nas percepções e representações sociais são mais importantes nesta área do conhecimento.

Ewé - De que forma a Educação Ambiental pode se relacionar com as diversas disciplinas curriculares?

Fraga – A Educação Ambiental obrigatoriamente é interdisciplinar, pois quando não é percebida em seu todo, muitas vezes é aplicada como uma matéria estanque. Há produção cientifica que permite o conhecimento de numerosos projetos de Educação Ambiental em escolas, empresas, porém, sua forma estanque desvinculada do seu todo, ou seja, é trabalhada com um enfoque de uma determinada questão e é só. Existe uma preocupação por parte dos educadores em desenvolver um projeto pedagógico durante o ano letivo e muitos deles não conseguem globalizar a Educação Ambiental aos conteúdos curriculares, isto ocorre por que o conceito de Educação Ambiental não está bem definido, seja por parte dos educadores, orientadores e ou coordenadores.
A concepção de que os atos sociais refletem-se no meio natural, justifica a relevância da educação ambiental nas escolas. Uma possibilidade de assumir a transformação individual como meio para sociedade brasileira atingir, ao longo de um certo tempo, uma conduta ambiental responsável.

Ewé - Qual o maior desafio para criação de comunidades sustentáveis nos nossos tempos?

Fraga – Nas sociedades humanas com mais de 20.000 habitantes se torna praticamente impossível viver em sustentabilidade devido a complexidade do modo de vida moderno e suas exigências energéticas. Porém muitos efeitos deletérios da vida em sociedade e a degradação que ela geral podem ser mitigados por meio do processo participativo de execução do plano de ação entre as instituições e a comunidade, com o objetivo de buscar soluções de ordem social, econômica e ambiental. De forma sucinta, esta metodologia socioambiental visando uma sustentabilidade mínima possui as seguintes características:
É um processo e não um momento estanque isolado;
É uma aprendizagem para o conjunto de pessoas presentes na área (população local e agentes externos), por meio da coleta de dados quantitativos, assim como uma leitura qualitativa e analítica dos mesmos com a apresentação dos problemas e potencialidades que serão apontados durante a análise local;
É um processo no qual os agentes externos buscam não apenas a identificação dos problemas de um local, mas principalmente a compreensão destes problemas na perspectiva e no conhecimento da população que ali vive;
Por intermédio do desenvolvimento de um Plano de Ação, o processo mantém a sua continuidade com a busca da implantação das práticas possíveis de serem aplicadas e que foram apontadas pela coletividade;
Manter a participação de todos os envolvidos por meio da efetivação do Plano de Ação ao longo do tempo, previamente estabelecido com um cronograma de atuação.

Ewé - Trazendo para a realidade das nossas escolas públicas onde os recursos são bem limitados, em que implica a realização da alfabetização ecológica defendida por Fritjof Capra?

Fraga – A alfabetização ecológica se faz fundamental, pois é na tenra idade que se “vai” formando um cidadão, mas sensível ao mundo vivido, Capra (2000, p. 226) como poucos evidencia a associação da visão cartesiana mecanicista do mundo, a influir em todas as ciências, com o pensamento ocidental, ao mostrar “o lado sombrio do crescimento”, o que lhe permite afirmar: “o excessivo crescimento tecnológico criou um meio ambiente no qual a vida se tornou física e mentalmente doentia”. Porém, tomando a Agenda 21 como base para a responsabilidade social, no Capítulo 36 que trata da promoção do Ensino, da conscientização e do Treinamento quando institui que: “As autoridades pertinentes devem assegurar que todas as escolas recebam ajuda para a elaboração de planos de trabalho sobre as atividades ambientais, com a participação dos estudantes e do pessoal. As escolas devem estimular a participação dos escolares nos estudos locais e regionais sobre saúde ambiental, inclusive água potável, saneamento, alimentação e os ecossistemas e nas atividades pertinentes, vinculando esse tipo de estudo com os serviços e pesquisas realizadas em parques nacionais, reservas de fauna e flora, locais de herança ecológica etc.” (AGENDA 21, 1992, p.168).

Ewé - Trabalhar com conscientização da escassez dos recursos naturais é importante pára toda a população do planeta. Como o educador pode ampliar esse trabalho para que não fique restrito a um projeto interdisciplinar?

Fraga – Todo projeto possui e permite ao educando uma visão maior e mais complexa do que o seu mundo vivido, ele transcende ao universalista ou global. Nesse início de século XXI, “a única utopia realista é a utopia ecológica e democrática”, consoante Souza Santos pondera (SOUZA SANTOS, B. Pela mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade. São Paulo: Cortez, 2001, p. 43). É realista, porque se assenta num princípio da realidade que consiste na contradição crescente entre o ecossistema do planeta Terra, finito, e a acumulação do capital, tendencialmente infinita. É utópica, porque sua realização pressupõe a transformação global dos modos de produção da vida material, da maneira como as pessoas ganham a vida, “mas também do conhecimento científico, dos quadros da vida, das formas de sociabilidade e dos universos simbólicos e pressupõe, acima de tudo, uma nova relação paradigmática com a natureza”. O que só é susceptível “no caso de a relação entre a subjetividade e a cidadania ocorrer no marco da emancipação e não como até aqui, no marco da regulação”.

Ewé - É necessário o conhecimento de geologia e biologia para trabalhar nas escolas com nessa perspectiva?

Fraga – Não apenas geologia e biologia, mas todas as formas de conhecimento científico devem ser trabalhas (das artes a matemática), isto significa, então, que a transdisciplinaridade representa a dimensão, o alcance, a diversidade e a integralidade do conhecimento, fundamentais na formação do ser humano, que possibilita a interação do homem com o meio, a partir do estabelecimento de uma nova relação deste homem com o meio ambiente e a sociedade. Educação Ambiental seria então uma ação transdisciplinar, uma ação formativa e integrativa do conhecimento, isto porque, se considera também a sua "natureza holística" que busca a interação, trabalha o todo e não as partes.

Mais informações:
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