A CONSTRUÇÃO DA IMAGEM POLÍTICA DE GERALDO ALCKMIN NO 2º TURNO DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2006
Dayane Trindade;
Maria Barral;
Paloma Nogueira
*Estudantes do 5º semestre de comunicação social com habilitação em jornalismo das Faculdades Jorge Amado
RESUMO: O artigo discorre sobre a construção e promoção da imagem do candidato do PSDB, Geraldo Alckim, à presidência do Brasil, da revista impressa Veja, nas edições de 11 de outubro, 4 de outubro e 25 de outubro de 2006, durante o cenário político do 2º turno da eleição presidencial de 2006. O texto aqui apresentado deriva-se principalmente da experiência acadêmica da disciplina Comunicação e Política e da pesquisa e análise do veículo em questão.
PALAVRAS-CHAVE: Marketing político e eleitoral, segundo turno da campanha eleitoral presidencial de 2006, construção de imagem política, opinião pública, escândalo político, poder simbólico, mídia.
I - INTRODUÇÃO
O estudo das políticas editorias e da cobertura política no período eleitoral de veículos de comunicação impressos se faz necessária, pois atingem a todos os leitores-eleitores do território brasileiro, criando uma imagem específica e tendenciosa de cada partido e candidato, interferindo diretamente na opinião pública. As alianças partidárias e econômicas entre instituições privadas para financiamento de campanhas geram um espiral de interesses e favores que norteiam todo o período governamental. O compromisso com a informação que alguns impressos asseguram priorizar muda radicalmente durante as campanhas. Os veículos impressos periódicos são uns dos maiores disseminadores de ideologias e construção de imagem nos tempos atuais. A construção da imagem pública de um candidato se faz, principalmente, através dos meios de comunicação e da sua propaganda, convém o jornalismo esclarecer, tirar dúvidas e ser imparcial na apuração.
II ANÁLISE DAS TRÊS EDIÇÕES DA REVISTA VEJA
I.I - 18 de outubro de 2006
Na edição do dia 4 de outubro de 2006, a revista Veja publica, na capa, uma chamada anunciando que uma matéria chamada: Dinheiro sujo do PT - aparecem novas fotos, dando continuidade a “apuração contínua” dos seus repórteres ao que eles consideravam um escândalo político. Thompson define o escândalo político é “É o fato de o indivíduo que está no centro do escândalo ser uma figura política destacada [...] que faz com que o escândalo se constitua em um escândalo político.” (Pág. 124, 2002).
Nessa edição da revista, a editoria denominada de “contexto” da página 49, trouxe um box com a imagem dos dois candidatos a presidente (Lula e Alckmin) lado a lado, separados por textos comparativos em relação aos seus programas de governo. A chamada era: As principais diferenças dos programas de Lula e Alckmin. Os temas comparativos era: Agência reguladoras, relações exteriores, energia, exportações e emprego. Temos observado que por trás de cada matéria publicada na revista veja nesse período, a intenção era promover a qualquer custo o candidato do PSDB. A ideologia política da revista é muito clara. Ela tende a favorecer os partidos da direita e isso é perceptível a cada página, o que nos faz a refletir sobre o que Wilson Gomes chama, em uma dos seus capítulos do livro: transformações da política na era da comunicação de massa, de “política em cena e os interesses fora de cena”. Para ele, os comunicólogos agem como deuses que podem selecionar pessoas e fatos e dar-lhes uma existência midiática.
A cena política, como parte da cena pública, também é construída e ordenada por esses selecionadores e editores, sendo dependente dos meios, recursos, instituições e agentes do sistema de comunicação de massa. Ora, o estar em cena, em cena midiática, não é algo que se ofereça optativamente aos agentes do campo político. Sem tal esfera de exposição pública de massa não haveria acesso relevante ao eleitorado, que possui o recurso fundamental para o campo político: o voto. A presença na esfera da visibilidade pública lhe é, portanto, fundamental”. (GOMES, 2004).
A reportagem: tensão e dinheiro na chegada (da página 56 a 60), dos repórteres Julia Duailibi e Renato Piccinin, trás uma ilustração dos três candidatos que estão a frente nas pesquisas eleitorais (Lula, Alckmin e Heloísa Helena) com o percentual de intenções a voto abaixo das imagens. A diferença entre a porcentagem dos dois primeiros é de 13%. Tentando um segundo turno, surge o caso do dinheiro que, segundo a mesma revista, “estavam com os petistas presos e que foram entregues a eles por um assessor do candidato ao governo de São Paulo Aloísio Mercadante. O PT tentou esconder as imagens por meio de liminar”. O escândalo do dinheiro que supostamente seria proveniente da compra de um dossiê contra os tucanos, pagos ao empresário Vedoin, veio como uma bomba e levou os candidatos ao segundo turno. A linha fina da matéria dizia: A poucas horas do primeiro turno, o partido do presidente Lula tenta impedir na Justiça a divulgação das imagens do dinheiro com que petistas pretendiam comprar o dossiê contra o tucano José Serra.
Na página 60, a revista utilizou da ausência do candidato do PT em um debate da emissora Rede Globo, para insinuar, através da fala da candidata Heloísa Helena, que lula não compareceu por medo de estar exposto a perguntas referentes ao seu governo corrupto: “Lula tinha a obrigação de descer do seu trono de corrupção”, disse a senadora candidata pelo PSOL.
O escândalo referente ao dinheiro do dossiê e a ausência do candidato em todos os debates promovidos pelas emissoras de televisão do país foram decisivas para a não ocorrência do esperado reeleição no primeiro turno. Acreditamos que esses fatores contribuíram para uma perda significativa de votos dos eleitores na primeira etapa da corrida presidencial na eleição de 2006.
II. II - 11 de outubro de 2006
A edição nº 40 da revista Veja, de 11 de outubro de 2006, aparece o candidato Geraldo Alckmin do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) na capa e fala sobre o seu avanço nas eleições e como o candidato chegou a o segundo turno das eleições para a presidência do mesmo ano. A chamada da matéria: “O fenômeno Alckmin", é em caixa alta (todas as letras maiúsculas) e colorida o que faz chamar mais a atenção do leitor. A matéria contém oito páginas falando sobre a candidatura e vida de Alckmin além de mais quatro páginas adicionais falando sobre a economia pretendida no seu governo. As páginas são bem ilustrativas, com fotos em alta resolução e em tom mais sério e mais conservador que o normal. Em uma das fotos o candidato aparece pousando com sua família e logo em baixo a matéria ressalta a importância que ele dá a ela:
Alckmin faz questão de separar o ambiente de trabalho do ambiente familiar [...]. No domingo passado, dia do primeiro turno das eleições, Alckmin acompanhou a apuração das urnas em seu apartamento, na companhia apenas dos três filhos, seus respectivos namorados, e da mulher Lu Alckmin [...]
Considerando que o público - alvo da revista e o Brasil é um país conservador e católico que prioriza as questões familiares, a revista chama a atenção para o que John B. Thompson fala no seu texto
A natureza do escândalo político sobre poder simbólico. Uso esse termo para me referir á capacidade de intervir no curso dos acontecimentos, de influenciar as ações e crenças de outros e, na verdade também criar acontecimentos, através da produção e transmissão de formas simbólicas (TOMPSON, 2002, p. )
O poder político envolve um determinado grau de força na mídia, que faz com que os políticos influenciem as pessoas através da sua reputação. No mesmo texto Thompson fala que os políticos se atribuem de vários tipos de recursos como os meios de comunicação e informação para usar meios técnicos de fixação e transmissão influenciando na recepção e no reconhecimento. A busca pelo poder simbólico não é acidental, ele também pode ser constituído através do tempo e da instituição (partido) ao qual o candidato faz parte. Ele está ligado à construção da sua reputação, ao acúmulo de prestígio do político o que envolve muito a participação da mídia.
A revista Veja ajuda o candidato Geraldo Alckmin a construir esse poder simbólico. Thompson sugere que “todo aquele que quiser conquistar poder político, ou exercê-lo de uma maneira durável e efetiva, deve também usar o poder simbólico para cultivar e sustentar a crença na legitimidade” .
Todo o texto é construído em favorecimento ao candidato, o que não é cabível ao jornalismo, que busca a objetividade e a imparcialidade. Em dois trechos específicos da matéria a revista exalta e favorece Alckmin através de defeitos da candidatura do seu concorrente do PT (Partido dos Trabalhadores), o atual presidente da república Luís Inácio Lula da Silva;
O mau resultado obtido pelo PT nas urnas deve-se às promessas que Lula deixou de cumprir nos seus quatro anos de mandato [...]. Já Alckmin gabar-se do contrário. Durante sua gestão à frente do governo paulista, o crescimento de São Paulo chegou a superar em quase três pontos a média nacional (VEJA, nº 40, p. 50).
Fica claro que a revista e o candidato tentam persuadir a opinião dos eleitores através de falhas do atual governo e do seu concorrente a eleição.
Os representantes eleitos ou aspirantes procuram comumente desacreditar seus rivais, retratá-los como não merecedores de confiança e suspeitos , aumentando desse modo sua própria posição às custas dos opositores e aumentando suas possibilidades de sucesso eleitoral (THOMPSON, 2002, p. 133).
O box de opinião expresso na página 51 da revista, mostra o número de votos do candidato Alckmin em relação ao Lula. Ele diz mostrar o valor absoluto de que Alckmin recebeu a segunda maior votação de um candidato a presidente em primeiro turno. Explicita e compara o número de votos que Alckmin recebeu no primeiro turno em segundo lugar em relação ao número de votos que Lula recebeu em 2002 na sua eleição para presidente. Segundo Noelle Neuman, quando fala sobre a Espiral do Silêncio, enquetes, opiniões e dados propostos pelos meios de comunicação têm o objetivo de silenciar a opinião das pessoas que não estão inseridas na suposta maioria e, portanto seguem-na para não desagradar e não se isolar dos demais.
As pessoas tendem a esconder opiniões contrárias à ideologia majoritária, o que dificulta a mudança e ajuda a manter o status quo. A opção pelo silêncio é causada pelo medo da solidão social, que se propaga em espiral e, algumas vezes, pode até esconder desejos de mudança presentes na maioria silenciosa (apud SOUZA, 2002, p.155).
Toda essa estratégia de eleição do candidato faria parte, então, do seu projeto de marketing? O marketing político (propaganda, pesquisas, planejamento, construção de imagem) é indispensável nos dias de hoje, não só pelo crescimento da tecnologia como o da própria mídia. No Brasil, ele cresce desde a década de 80, principalmente a partir da campanha presidencial de 89. Hoje ele tem forças e se torna essencial na construção da carreira política dos candidatos. Segundo Cid Pacheco “no mundo de hoje tornou-se improvável o sucesso numa eleição apenas por meios puramente políticos, sem contribuição substancial das técnicas de marketing” (PACHECO, 1994).
Os marqueteiros dos políticos acabam por criarem polêmicas nas propagandas dos seus clientes, sentindo os efeitos esperados pela mídia e na recepção dos seus expectadores. As dimensões do marketing político-eleitoral se assemelham as mesmas regras de propaganda de qualquer mercadoria/produto vendido na mídia; as mesmas pessoas (que são os profissionais de marketing e propaganda) que constroem a imagem de um sabão, cigarro, eletrodomésticos para a venda são aqueles que constroem a imagem de “venda” dos políticos. “O candidato –enquanto objeto- eleitoral é um ‘produto’ e a eleição é uma ‘venda’[...].” (PACHECO, 1994).
Para definir o conceito de marketing Phiplip Kotler diz que:
O marketing é a função dentro de uma empresa que identifica as necessidades e os desejos do consumidor, determina quais os mercados-alvos que a organização pode servir melhor e planeja produtos, serviços e programas adequados a esses mercados. A meta do marketing é satisfazer o cliente de forma lucrativa, criando relação de valor com clientes importantes (KOTLER E ARMSTRONG, 1999).
Considerando que os políticos são objetos e produtos de “venda”, a sua carreira política e seus objetivos, realizados ou não, acaba se tornando mais um paliativo para sua campanha atingir o público alvo e fazendo com que ele ouça o que quer “consumir”.
A revista Veja acaba por transformar Alckmin em um político atencioso, pai e companheiro (através de fotos e do próprio texto). Ela diz desmentir dados do Governo Lula e corrige com propostas possíveis do governo tucano. Ela gira em torno do candidato do PFL (Partido da Frente Liberal, atual PD, Partido Democrata) construindo a sua imagem política plena a que seus eleitores desejam ouvir.
Maria Helena Weber refere-se à confiança em que o candidato representa para o seu grupo (partido) em relação ao expectador quando diz;
A força do homem político é retirada da confiança que um grupo lhe atribui, sendo que o capital político de um homem é de puro valor fiduciário, o qual depende da representação, da opinião, da fé. Há um esforço controlado, por parte desse político, de impor e justificar idéias e ações para o grupo que nele,em nome de verdades, confiou, e, para tanto ele depende da mídia ,que detém o poder de fazer, desfazer e questionar verdade (WEBER, Maria. P. 272).
“A imagem pública de um candidato pode ser construída através do seu estilo pessoal ou o modo de governar”, segundo Maria H. Weber, acrescentando que essa é “diferença eficaz de atrair e enredar”.
O poder político e a imagem pública de um candidato são constituídos através do marketing e da construção dessa imagem perante a mídia e aos telespectadores. As estratégias de seguir adiante e alcançar seus objetivos para esses políticos, não contem barreiras para seus investimentos. Os meios de comunicação servem de base para um melhor entendimento da população sobre as propostas de cada candidato para o seu governo, porém o crescimento do mundo globalizado e movimentado através do capital e de interesses em relação ao dinheiro por ele gerado acaba descontruindo a objetividade e a imparcialidade que por esses meios devem ser seguidos (deixando claro que não são todos os meios de comunicação).
II.III – 18 de outubro de 2006
Na edição do dia 18 de outubro a revista veja publicou como matéria de capa o caso dossiêgate com a chamada: limpeza de alto risco – a operação para encobrir a origem do dinheiro pode ser ainda mais devastadora para o governo, pelo repórter Marcio Aith, com 10 paginas discorrendo sobre o caso, além de mais 2 páginas na editoria contexto com a foto dos dois candidatos do segundo turno com o título: o que você sabe sobre o seu candidato, mais duas páginas na editoria Brasil: vivam as privatizações! Lula as abomina. Alckmin as defende com timidez, mas a venda de estatais é a melhor maneira de combater a corrupção, o aparelhamento e a ineficiência e, logo em seguida trás uma entrevista com o economista Fábio Giambiagi que estava lançando um livro. A chamada era a seguinte: o Brasil está se suicidando – livro mostra como a Previdência se tornou o veneno invisível das contas públicas do país. E, mais uma matéria na mesma editoria, trazia questões ligadas a Lula: o terrorismo do PT – a campanha de Lula adota tática de usar boatos para prejudicar o adversário.
A matéria anunciada por uma chamada na capa, tem o título de: um enigma chamado Freud e logo após, na linha fina, diz: “ele e o dossiê são como fogo e dinamite. Por isso, uma operação está em curso para mantê-los afastados. Se ela falhar, será um deus-nos-acuda”, evidencia mais uma vez a intenção da revista em derrubar de vez com a imagem do presidente em processo de reeleição. Nas páginas seguintes (46-47), fotos de ambos candidatos à presidência são colocadas lado a lado, separadas pela imagem do dinheiro que foi o que eles chamaram de “imagem do escândalo” e, logo a cima, uma pergunta: “por que a descoberta da origem do dinheiro do dossiê pode complicar a vida de Lula?”. E, ao lado a própria revista responde: “Porque todos os fatos, indícios e versões até agora apontam para o cometimento de crime eleitoral, cuja pena é a cassação do registro de candidatura do envolvido – neste caso, o presidente Lula – ou a perda do mandato”.
Em todas as matérias, total de 15 páginas, foi dedicada a destruir a imagem do candidato e seu partido para promover, de certa forma, a imagem do tucano Alckmin. Essa revista não mede esforços para introduzir no leitor, uma imagem nebulosa dos partidos ligados ao movimento de esquerda. Questões ligadas a corrupção são ganham um enquadramento jamais visto em relação aos governos anteriores. O caso dossiêgate, exaustivamente anunciado pelos meios de comunicação interligados ideologicamente e economicamente, do na reta final da corrida presidencial é um bom exemplo disso. Para Lima (2006), “o exagero na cobertura de um fato negativo e a sua minimização quando é positivo identificam um tipo de distorção na cobertura jornalística”.
A metade da página 51, conta com uma foto de Lula em meio a multidão, e, atrás dele, o encarregado da compra do dossiê contra Alckmin, tentando mostrar a suposta amizade que existia entre eles, tentando trabalhar assim, no campo simbólico do leitor, com o intuíto de criar uma nova imagem do candidato do PT para derruba-lo do governo.
Para Thompson, os escândalos políticos são representados, no campo da mídia da política moderna, através das lutas pelo poder simbólico. Qualquer ato que venha a denegrir a imagem do político, ou produto para Almeida, pode levar ao fim. A divulgação de materiais, imagens ou declarações que comprovem um escândalo, pode ser irreversível para a sustentação desse candidato. No caso de Lula, o segundo turno foi decisivo pra salvar sua imagem e a do partido, contando, principalmente com o poder do simbólico que foi construído a partir da sua imagem. Segundo Lima (2006), a reputação é um dos aspectos mais importantes do campo do simbólico.
Escândalo político midiático, portanto, é o evento que implica a relação, através da mídia, de atividades previamente ocultadas e moralmente desonrosas, desencadeando uma seqüência de ocorrência posteriores. O controle e a dinâmica de todo o processo deslocam-se dos atores inicialmente envolvidos para os jornalistas e para a mídia. (LIMA, 2006).
Na página seguinte, mais um ataque ao candidato Luis Inácio. A matéria dizia: ficou ainda pior. Relatório do TCU diz que o dinheiro das cartilhas pode ter pago a dívida do PT e, na página ao lado, um artigo totalmente tendencioso escrito por André Petry: é da nossa conta, sim. O mais curioso é que em nenhum momento nessa segunda parte das campanhas eleitorais, a revista veja tenha publicado qualquer escândalo, por menor que fosse, referente a gestão anterior do candidato do PSDB. Absolutamente nada foi exposto além de uma ou outra matéria apresentando um homem acima de bem e do mal.
Finalmente, encerram a cansativa e repetitiva exposição do governo de Lula com uma última matéria, seguindo os mesmos padrões: o terrorismo do PT. “A campanha de Lula adota a tática de usar boatos para prejudicar candidatos” e “o bin laden Marco Aurélio Garcia: missão de espalhar o terror”, estão em destaque no texto acompanhado por uma foto de Marco Aurélio em uma posição que favorece a matéria. E assim, eles concluem o último tiro dessa edição.
II.IV - 25 de outubro de 2006
Estudo feito com a edição 1.979, ano 39, nº. 42, da revista Veja de 25 de outubro de 2006, intitulada “O ‘Ronaldinho’ de Lula”, possibilitou a definição do posicionamento do veículo durante a última semana do 2º turno das eleições presidenciais de 2006, marcado pela não propaganda eleitoral direta. Ainda assim, foi constatada novamente a construção de imagem favorável ao candidato tucano à presidência da República, o Geraldo Alckmin, em detrimento ao candidato da oposição, o Lula.
Na Carta ao Leitor, editorial do veículo, o texto se posiciona favorável às privatizações e abertura econômica feitas durante o mandato do ex-presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso - FHC (1995-2002), do PSDB. Caracteriza as instituições privadas como “lucrativas, inovadoras, eficientes e socialmente mais úteis” e como “perdulárias e corrompidas” as empresas estatais. Apesar de tratar como um erro a proposta de Geraldo Alckmin de “não privatização”, julga-o como “o desafiante que caiu numa armadilha” do atual presidente da República, que condena a medida econômica nascida com o Plano Real. Na verdade, a intenção inicial do Plano de centralizar a atuação governamental em áreas como saúde, educação, justiça, segurança e tecnologia, na época, não alcançou proporções concretas. Então, as privatizações não passaram de utilização do dinheiro público através de investimentos às multinacionais estrangeiras via BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e de negociações não transparentes. Outras comparações são feitas entre Lula (PT) e FHC (PSDB) por todo o impresso. Surgem diferentes notas sobre investimentos do PSDB no seu último mandato e gastos públicos, burocracias, corrupções, desmatamentos, superfaturamentos do PT, dentre outros dados comparativos dos dois presidentes nos últimos 12 anos.
A revista utiliza imagens de favelas, pessoas em condições precárias de saúde, moradia e segurança, em contraposição com fotos de grandes empreiteiras e construções, de ambulâncias e aviões novos, de mansões, do Palácio da Esplanada e de Lula em posição de comando. Esses recursos gráficos são sinais e informações estrategicamente construídos para a formação da imagem de um governo antagônico, que repercute na suposta opinião pública existente. É esse leitor-eleitor que dá poder à mídia, mas também o que dá imprevisibilidade aos resultados.
De acordo com a análise da manchete “Porque não pode todo mundo ser o Ronaldinho” publicada nessa edição, referente à sociedade entre a produtora de jogos digitais Gamecorp, que hoje se chama G4 Entretenimento e Tecnologia Digital e tem como sócio Fábio Luís Lula da Silva, filho do presidente da república, com a Telemar, concessionária de serviços públicos de telefonia, podemos perceber que
o convencimento, a sensibilização, a argumentação, a pressão reinvidicativa não violenta [...] enfim, a busca pela hegemonia com a emergência política, tornam-se expedientes legítimos de como proceder para a conquista e a manutenção do poder político (RUBIM, 2002, p.5).
A utilização de perguntas tendenciosas ao leitor, instigando conclusões que a revista não informou explicitamente, por falta de informações verdadeiras e precisas sobre o caso, é um dos recursos explorados de convencimento e sensibilização. O texto é predominantemente composto por perguntas, para que o leitor seja levado a discutir o assunto com o viés que a revista propõe. A matéria conduz as opiniões dos leitores, susceptíveis às pressões dos questionamentos e das poucas informações, a uma homogeneização de reações.
Podemos perceber concretamente o que John B. Thompson quis dizer com
a política em uma democracia liberal é um campo de forças competitivas que são organizadas e mobilizadas através de partidos e outros grupos de interesses [...] criando uma atmosfera tensa, algumas vezes altamente carregada, em que o conflito e a confrontação são a norma; partidos e outros grupos de interesse estão constantemente preocupados em atacar seus opositores, procurando tirar proveito dos possíveis pontos fracos existentes (THOMPSON, 2002, p.127-128).
“Salto na reta final” é o título da matéria que discorre sobre a vantagem eleitoral que Lula alcançou no 2º turno das eleições de 2006 com o público feminino, com escolaridade média e superior, da região Sul e com renda mensal maior que 5 salários mínimos. Apesar de reconhecer a dependência do candidato tucano aos escândalos políticos do Mensalão, Dossiêgate e CPI’s (Comissão Parlamentar de Inquérito), a Veja adjetiva o momento como “uma aparente anestesia dos eleitores diante da questão ética”.
A revista justifica a perda do eleitorado de Geraldo Alckmin como uma “ação terrorista do PT” ao passar uma imagem de repetição às privatizações, corte de despesas, aumento do desemprego e diminuição dos salários, marcados pelo governo de Fernando Henrique. Neste caso, podemos considerar que a veículo não compactua com o conceito de escândalo político de Markovits e Silverstein, “característica crítica de todo escândalo político não é o grau de proveito pessoal envolvido, mas é a presença de qualquer atividade que procure aumentar o poder político às expensas dos processos e procedimentos adequados”, por considerar todo tipo de proveito pessoal uma ação relevante para gerar um escândalo de grande repercussão.
“Os coronéis de Lula” é uma reportagem legitimada por entrevista do cientista político da Universidade Federal de Pernambuco Michel Zaidan, em que a revista compara à atual predominância de petistas em cargos políticos no Nordeste do país com a época do coronelismo, em que “caudilhos” dos PFL e do PMDB (Partido Movimento Democrático Brasileiro) dominavam o poder. A Veja considera que a “máquina de produzir votos” hoje está a serviço do PT. O doutor em ciência política Paulo Fábio Dantas Neto, pesquisador do carlismo na Bahia, diagnosticou em palestra na Universidade Federal da Bahia as causas da permanência desse reduto de poder, dentre outros fatores, ao clientelismo e o alto índice de alienação (votos em branco ou nulo) da população interiorana. Para ele, a transformação das lideranças políticas dessa região foi em decorrência do amadurecimento da oposição e da inovadora “consistência partidária e política”. Portanto, a revista utiliza uma comparação histórica desconectada e sem arcabouço informativo, enfraquecendo ainda mais a intenção da matéria.
III - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com este artigo tentou-se dar uma pequena contribuição no que se refere a cobertura de um momento político, em um veículo de comunicação onde os interesses estão em jogo em um cenário de representação política, como é chamado por Venício Lima. O simbólico e o enquadramento dos fatos podem ser decisivos durante as campanhas eleitorais.
Enquadramentos podem ter pelo menos quatro loci no processo de comunicação: o comunicador, o texto, o receptor (audiência) e a cultura. O texto expressa a intenção consciente daqueles na posição de selecionar qual o conteúdo da mídia e de que forma ele deve ser construído. {...] a noção do enquadramento é mais um importante instrumento na identificação do “alinhamento” dos conteúdos da mídia com o hegemônico (ou contra-hegemônico). (LIMA, 200X)
Outro fator que também devemos considerar como um dos pontos-chave é a questão do jogo de marketing. Jorge Almeida, em seu artigo: o marketing político-eleitoral, mostra que no critério nesse momento é pensar o candidato como um produto, a eleição como uma venda e o eleitor como o consumidor que tem o poder de comprar ou não a imagem que lhe é passada. O ‘efeito verdade’, para Almeida, está no campo simbólico que é construída a partir da imagem do candidato. Acreditamos que no caso dessa última eleição ocorrida no Brasil, a imagem simbólica do atual presidente Lula, operário, sindicalista, carismático e as referencias do primeiro governo referente aos programas como pro uni, bolsa família, fome zero, entre outros, superaram qualquer tentativa de escândalo referente a corrupção do seu governo.
IV - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Jorge. O marketing político-eleitoral. Salvador, Universidade Federal da Bahia, 200X.
GOMES, Wilson. In: A política em cena e os interesses fora de cena. Transformações da política na era da comunicação de massa. São Paulo, Ed. Paulus, 2004.
LIMA, Venício A. de. Cenários de representação da Política, CR-P. Porto Alegre, Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, 200X.
___________________. In: “Presunção de culpa”: a cobertura da crise política de 2005-2006. Mídia: crise política e poder no Brasil. Porto Alegre, Ed. Fundação Persen Abramo, 2006.
Limpeza de alto risco. Um enigma chamado Freud. Revista Veja. São Paulo, nº41, ano 39, 18 de outubro de 2006.
O desafiante. O fenômeno Alckmin. Revista Veja. São Paulo, nº40, ano 39, 11 de outubro de 2006.
O desafiante. Como seria a economia sob Alckmin. Revista Veja. São Paulo, nº40, ano 39, 11 de outubro de 2006.
O massacre dos impostos. Tensão e dinheiro na chegada. Revista Veja. São Paulo, nº39, ano 39, 4 de outubro de 2006.
O “Ronaldinho” de Lula. O “Ronaldinho” de Lula. Revista Veja. São Paulo, nº 42, ano 39, 25 de outubro de 2006, set. 2006.
REGO, José Márcio. MARQUES, Rosa Maria. (org.). Economia Brasileira, 2 ed., São Paulo: Saraiva, 2004.
RUBIM, Antônio Albino Canelas. Espetáculo, Política e Mídia. Salvador, Universidade Federal da Bahia, 2002.
SOUZA, Jorge Pedro. Teorias da Notícia e do Jornalismo. Chapecó: Argos, 2002.
THOMPSON, John B. O escândalo político: poder e visibilidade na era da mídia. 1 ed., Petrópolis: Vozes, 2002.
VEIGA, Luciana. GONDIM, Sônia Maria Guedes. A utilização de métodos qualitativos na Ciência Política e no Marketing Político. NET, abril 2007, Seção Marketing Político 6. Disponível em:
WEBER, Maria Helena. Imagem Pública. Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 200X.