17.5.07

Resenhas de peças teatrais: Ó Paí Ó e A Comida de Nzinga

“Ó PAÍ Ó”
Paloma Nogueira

Pelourinho, 1992. Um dos bairros mais antigos de Salvador, até então esquecido pela elite, passa a ser alvo do mercado de turismo. A revitalização do Centro Histórico trouxe não apenas turistas e felicidade maquiada para a “terra da magia”, como divulgado pela mídia, mas uma nova exclusão social. A expulsão dos moradores para bairros distantes, confronto com a polícia e violências sofridas pelas pessoas que residiam no ‘Pelô’ são contadas de forma lúdica pelo Bando de Teatro Olodum. Essa companhia de teatro é uma das mais importantes no cenário artístico baiano, tendo como principal característica a exaltação dos problemas cotidianos regionais.
Personagens do nosso dia a dia fazem parte da peça que tem a direção de Marcio Meirelles e Chica Carelli, dramaturgos respeitados no país pela seriedade dos seus trabalhos. A história se passa em um dia de terça-feira, quando acontece a tradicional Terça de Benção. Uma baiana que sonha em conhecer um turista e sair do pais, uma travestir que tenta ganhar a vida e tem caso com um vizinho casado, compositor, gente querendo virar estrela, a senhora ‘fuxiqueira’ do cortiço e um boteco compõe o espetáculo com música e dança.
Questões ligadas aos Direitos Humanos como genocídio, discriminação racial e prostituição são tratadas de maneira bem humorada, chamando atenção para a valorização do nosso povo e da nossa cultura, contando a história de pessoas como nós.




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A Comida de Nzinga
Paloma Nogueira

Em comemoração aos 10 anos do Theatro VXIII, a companhia Axé do XVIII comemora com o espetáculo teatral A Comida de Nzinga, que já está a um ano em cartaz e é considerado um sucesso, atraindo um grande público a cada apresentação. Com direção de Rita Assemany, texto de Aninha Franco e Marcos Dias, assistência e direção de Diogo Lopes Filho, direção musical e trilha original de Bira Reis, Coreografia de Hamilton Alves e figurino de Miguel Carvalho, a história se passa entre os anos de 1624 e 1663, quando a rainha Nzinga dominou Ndongo e Matamba, atual região da República de Angola.
Imagem de uma pessoa forte, guerreira, líder, inteligente, diplomata, possuidora de um pensamento estratégico militar, mãe, mulher e bela. Essa é a rainha que causava fascínio a todos que a conheciam. Dos seus companheiros de nação aos colonizadores europeus com quem negociava também em idioma português. Ela lutou com exércitos holandeses e angolanos para evitar a dominação portuguesa em seu reino. Essa é construção da personagem sedutora, interpretada com maestria pela atriz Clara Paixão.
A importância dessa mulher para aquela sociedade foi extremamente importante e nos faz refletir sobre o papel feminino na nossa sociedade atual. Apesar de tantos avanços tecnológicos, as mentes machistas e preconceituosas ainda têm na imagem da mulher, uma figura frágil e incapaz. Movimentos feministas e Leis que deram uma maior oportunidade para esse gênero, abriram as portas para o ingresso no mercado de trabalho e atividades antes consideradas praticáveis apenas por homens. Imaginem a importância e a simbologia que representou essa rainha tão amada pelo povo, naquele contexto histórico e geográfico.
A Comida de Nzinga é uma montagem teatral muito bem escrita e direcionada, contando com um elenco, embora muito jovem, apresentam um boa maturidade artística, e trilha sonora acompanhada por belíssimas coreografias. Vale a pena conferir.