Publicada no dia 09/07/2010 às 15h59m
O panorama traçado pelo cálculo do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) para todo o país em 2009 traz uma notícia ruim e duas boas. A negativa não surpreende: na média, continuamos deficientes, principalmente no ensino público, em que os alunos, em geral, ainda estão muito distantes de um estágio razoável de aprendizado, capaz de dar esperanças concretas de que o país será mais competitivo no mundo globalizado, onde conhecimento é fator-chave de produção.
A primeira constatação positiva é que a situação já foi pior. Nos anos iniciais do ciclo básico, da 1ª à 5ª série, a nota média foi de 4,6, um ponto maior que o resultado de 2005. Avança-se, portanto, em direção à meta estabelecida para 2021 de o Brasil chegar à nota 6, alcançada por países desenvolvidos em 2003, numa avaliação da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Os objetivos fixados para 2009 foram alcançados; em alguns casos, ultrapassados.
Começa a dar resultado, portanto, a política de envolvimento do Executivo federal na educação básica, tradicionalmente deixada sob a responsabilidade exclusiva de estados e municípios. Com o Programa de Desenvolvimento da Educação, o governo federal passou a liberar recursos para a Federação e a trabalhar de maneira compartilhada em busca de metas.
Outra notícia positiva é que há centros de excelência em escolas públicas do ciclo básico, em que as notas do Ideb são de Primeiro Mundo. A escola municipal Aparecida Elias Draibe, de Cajuru, interior de São Paulo, é a escola pública com o ensino básico mais bem avaliado do país, com nota 9, obtida pelos alunos das séries iniciais do ciclo. No Rio, a melhor é a Escola João de Deus, no subúrbio da Penha, com 7,8 - quase dois pontos acima da meta de 2021 -, 32 colocada no Ideb, calculado para 1.146 municípios, do total de 5.564.
Há pontos comuns nos dois casos. O envolvimento dos professores é um deles. A formação é outro aspecto de destaque. Em Cajuru, por exemplo, todos têm que cursar Pedagogia. Não se desprezam, também, métodos tradicionais de ensino, como ditados e o incentivo à leitura. Não, há, portanto, fórmula misteriosa de como fazer a revolução de que o Brasil necessita, já realizada em países como a Coreia do Sul, pobre na década de 50, e que, por acertar ao priorizar nos gastos públicos a educação, nos passou em renda per capita e outros indicadores. O desafio é replicar o método país afora.
O professor, um dos polos da questão, é elemento-chave a ser conquistado. Não é simples, pois o forte sentimento de corporação dos profissionais costuma ser um empecilho à modernização do ensino público. E não só no Brasil. Nos Estados Unidos tem havido grande desconforto de sindicatos de professores, tradicionalmente ligados aos democratas, com o governo Barack Obama, defensor de programas de avaliação do professorado e remuneração por mérito.
Quando se observam as estatísticas desagregadas, não as médias, vê-se a dimensão da crise do ensino: há desníveis entre escola pública e particular - esta em níveis aquém das congêneres de países desenvolvidos - e entre regiões, como o Norte e Nordeste, muito mal situados, o que não surpreende. Mas o caminho para a mudança radical deste quadro começa a ser percorrido. É preciso, porém, continuidade, independentemente do governo da vez, em Brasília, estados e municípios.